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XIX JORNADAS NACIONAIS DA PASTORAL FAMILIAR
Fátima, 19/20/21 Outubro 2007
Centro Pastoral Paulo VI

 

Workshop 8
A identidade da Família

Jorge Cotovio
SDPF Diocese de Coimbra

1. Ver a família

a) Antigamente, no tempo dos nossos pais ou quando éramos crianças …
b) Hoje, que “famílias” existem?
- famílias tradicionais com terminologias tradicionais…
- famílias em situações especiais
            > famílias em que pelo menos um dos cônjuges é “recasado”
            > famílias com filhos portadores de deficiência
            > famílias monoparentais
            > famílias deslocadas (os migrantes)
- e outras «famílias», chamadas «alternativas»…
            > Famílias comunitárias
            Nestas «famílias», ao contrário dos sistemas familiares tradicionais (onde a total responsabilidade pela criação e             educação das crianças se cinge aos pais e à escola), o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da             responsabilidade de todos os membros adultos.
            > «Famílias homossexuais»
            Nestas famílias existe uma ligação conjugal ou marital entre duas pessoas do mesmo sexo, que podem incluir crianças adoptadas ou filhos biológicos de um ou ambos os parceiros.

2. Afinal de contas, o que é a família?

2.1. Segundo os homens

2.1.1. Direito civil
“Casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida” (art. 1577º do Código Civil).
Família é o conjunto de pessoas ligadas entre si pelo casamento, parentesco, pela afinidade e pela adopção (esta noção resulta da conjugação dos artigos 1576º, 1577º, 1578º,1579º, 1584º e 1586º do Código Civil).

2.1.2. O que nos diz a Wikipédia
“A família assume uma estrutura característica. A estrutura familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições socialmente reconhecidas e com uma interacção regular e recorrente, também ela, socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adoptados, habitando num ambiente familiar comum. A estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição, quando necessário.
A família ampliada ou consanguínea é outra estrutura, que consiste na família nuclear, mais os parentes directos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos.

    1. Segundo Deus

2.2.1. Os Evangelhos

a) O ícone da Família de Nazaré
"A Sagrada Família é um exemplo perfeito de "vida familiar". Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua beleza austera e simples, o seu carácter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social. Enfim aprendamos uma lição de trabalho."
(Paulo VI, Discurso em Nazaré, 5 de Janeiro de 1964).

Uma família alargada (nunca nomeada como uma família a três mas sempre em relação à descendência Davídica)
Uma família com surpresas desagradáveis (as desconfianças de S. José) (Mt 2, 19ss)
Com dificuldades logo de início (à procura de hospedagem; a fuga para o Egipto; …)
Com desencontros (quando Jesus se perde, aos 12 anos) ((Lc. 2, 41ss)
Com trabalho (José era carpinteiro, e a mulher e o filho também deviam ajudar…)
Com respostas incompreensíveis [“Por que me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” (Lc 3, 49); Em Caná: “Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora” (Jo 2, 4).
Com sofrimento (Maria junto à cruz)  (Jo 19, 25)
Mas era nesta família que “Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça”! (Lc 2, 52)

 

2.2.2. O Magistério da Igreja
a) Vaticano II
“Os cônjuges cristãos, em virtude do sacramento do Matrimónio, com que significam e participam o mistério da unidade do amor fecundo entre Cristo e a Igreja (cfr. Ef. 5,32), auxiliam-se mutuamente para a santidade, pela vida conjugal e pela procriação e educação dos filhos. (…) Desta união origina-se a família, na qual nascem novos cidadãos da sociedade humana (…)” (LG, 11)

b) Familiaris Consortio
FC 15: “A família, comunhão de pessoas”.
FC 19: “A primeira comunhão é a que se instaura e desenvolve entre os cônjuges. Esta comunhão conjugal radica-se na complementariedade natural que existe entre o homem e a mulher”.
FC 20: “Uma comunhão indissolúvel”.
FC 17: Família, torna-te aquilo que és! “E porque, segundo o plano de Deus, é constituída qual «íntima comunidade de vida e de amor», a família tem a missão de se tornar cada vez mais aquilo que é, ou seja, comunidade de vida e de amor”.
FC 18: “A família, fundada e vivificada pelo amor, é uma comunidade de pessoas: dos esposos, homem e mulher, dos pais e dos filhos, dos parentes”.
FC 42: “Pois que o Criador de todas as coisas constituiu o matrimónio princípio e fundamento da sociedade humana», a família tornou-se a ‘célula primeira e vital         da sociedade’. Assim por força da sua natureza e vocação, longe de fechar-se em si mesma, a família abre-se às outras famílias e à sociedade, assumindo a sua tarefa social”.
FC 49: Família «uma Igreja em miniatura» (Ecclesia domestica).
FC 52: Citando Paulo VI: «A família, como a Igreja, deve ser um lugar onde se transmite o Evangelho e donde o Evangelho irradia. Portanto no interior de uma família consciente desta missão, todos os componentes evangelizam e são evangelizados».
FC 55: “A família cristã, comunidade em diálogo com Deus”.
FC 63: “A família cristã, comunidade ao serviço do homem”.
A família cristã, enquanto edifica a Igreja pela caridade, põe-se ao serviço do homem e do mundo, actuando verdadeiramente na «promoção humana».

2.2.3. Outros documentos
-  “A família é um espaço privilegiado onde o amor de Deus se manifesta e a partir do qual atinge o mundo e a vida dos homens” (A Família, esperança da Igreja e do mundo, nº 69).
- “A família é o agregado humano baseado no casa­men­to. Este resulta da diferenciação e complementaridade dos sexos, levando o homem e a mulher a procurar numa união estável a realização pessoal e a sua projecção nos filhos” (Enciclopédia Católica Popular).

3. O que é que podemos fazer – nós, casais “mais responsáveis” – para que as famílias sejam mais autênticas, mais felizes…

… numa sociedade com esta cultura (cf. FEIM):

É uma cultura do provisório, que dá prioridade ao que é efémero sobre as realidades perenes com a marca da eternidade.
É uma cultura do prazer, que orienta para a satisfação imediata e egoísta dos próprios anseios e desejos.
É uma cultura do consumo e do bem-estar material: ao criar ilusões e necessidades inúteis, ao seduzir os homens com o brilho dos bens perecíveis, ao potenciar o reinado do «ter» sobre o «ser», escraviza o homem e relativiza a busca da identidade espiritual.
É uma cultura da facilidade, que ensina a evitar tudo o que exige esforço, sofrimento e luta.
É uma cultura irresponsável, que relativiza os princípios éticos.
É uma cultura de morte: desvaloriza de forma dramática a vida humana: (…) as crianças não nascidas, dos débeis, dos doentes e das pessoas idosas.
É uma cultura mediatizada: todos estes traços culturais impõem-se, continuamente, às famílias, através da avalanche dos meios de comunicação (nº 12).

 … e com estas dificuldades resultantes das estruturas sociais…

13. O urbanismo - A expansão económica verificada nas duas últimas décadas foi acompanhada por uma forte especulação imobiliária que encareceu significativamente o preço da habitação. A compra ou o aluguer da casa tornou-se um peso enorme para a economia familiar, afectando sobretudo os casais jovens.
14. O desemprego - O desemprego e o trabalho precário constituem, nos nossos dias, uma das mais sérias ameaças à família.
15. A injustiça fiscal - O sistema fiscal vigente ignora a centralidade da família na sociedade e apresenta-se, em geral, desfavorável à promoção da família e aos valores familiares.
16. A pouca protecção dada à maternidade - A incorporação da mulher no mercado de trabalho - umas vezes imposta pelas necessidades da economia familiar, outras pela ideia de que o valor e a dignidade da mulher se baseiam na sua profissão remunerada - obriga a que, em muitos casos, ela trabalhe todo o dia fora de casa. Na prática, isto pode significar, para a mulher, a renúncia à maternidade ou, na melhor das hipóteses, a redução ao mínimo do número de filhos. A fadiga resultante da actividade laboral, a necessidade de ser competitiva e a realização profissional tornam mais difícil que a mulher possa dar aos filhos o cuidado, o amor, o afecto e a atenção de que estes necessitam para se desenvolverem de forma equilibrada. Tal realidade não resulta, em muitos casos, da vontade da mulher, mas da impossibilidade de conciliar objectivamente a sua dupla condição de trabalhadora e de mãe.

… e com estas fragilidades internas…

17. Os abusos da liberdade individual
Numa sociedade em que o ideal de vida é a independência, as relações conjugais e familiares são vistas como uma pesada carga que rouba a liberdade e que é causa de sofrimento e de infelicidade.
18. As traições ao amor e à vida O individualismo, a infidelidade, a promiscuidade sexual, a mentira, o divórcio, as manifestações de violência e de desrespeito pela dignidade do outro, o aborto provocado.
19. A pobreza da dimensão espiritual e sobrenatural
Seguindo o sentido geral da cultura do nosso tempo - onde o divino deixou de ser um elemento significativo para a vida diária dos homens - muitas famílias reduzem o seu horizonte a uma perspectiva de bem-estar material e constroem a sua existência à margem dos valores transcendentes.

 

►Algumas pistas de actuação

a) organizar a pastoral familiar paroquial (criar uma equipa da pastoral familiar, antes de mais…)

b) investir na preparação dos noivos para o matrimónio
> Preparação remota (cf. A Família, esperança da Igreja e do mundo)
35. A preparação para o matrimónio começa com a infância e inclui a adolescência.
37. A juventude é, regra geral, o momento natural da eleição de um estado, o momento em que o jovem se abre a um horizonte mais amplo do que a sua família de origem e começa a discernir e a amadurecer o seu próprio projecto de realização. Nessa fase, podem aparecer itinerários de fé explicitamente matrimoniais.
> Formação próxima
38. O namoro e o noivado são uma etapa avançada na construção do projecto matrimonial.
39. Neste percurso formativo, os jovens que se preparam para o matrimónio deverão ser ajudados por toda a comunidade cristã. Os casais comprometidos na vida eclesial poderão dar testemunho da sua experiência matrimonial.
> A preparação imediata
40. Aos casais que prevêem a celebração do seu compromisso matrimonial num lapso de tempo relativamente curto, deve ser proporcionada uma preparação específica.

 

c) acompanhar os casais novos
50. Antes de mais, a comunidade paroquial deverá fazer um esforço no sentido de inserir os casais jovens numa dinâmica comunitária paroquial. A paróquia deverá, nesse sentido, utilizar a sua imaginação e a sua criatividade para promover estruturas de acolhimento, de acompanhamento e de inserção apostólica dos casais jovens.
Certos momentos-chave da vida das famílias - o baptismo, a primeira comunhão, a confirmação ou a escolha de um estado de vida dos filhos - deverão ser acompanhados de forma especial pela Igreja e constituir oportunidades de aproximação da família à comunidade e da comunidade à família. Outras situações - o nascimento e a educação dos filhos, o trabalho, a doença, a morte - exigem um acompanhamento especial da comunidade eclesial, de forma a que a família se sinta sempre apoiada nas suas alegrias e tristezas, na sua vocação e missão.

d) acompanhar as famílias em situação particularmente difícil (Acolher e compreender!!!!!)
46. Os divorciados recasados. A solicitude maternal da Igreja por esses seus filhos a quem as dificuldades da vida, aliadas à fraqueza humana, colocaram em situação difícil.

e) potenciar os movimentos de espiritualidade familiar
51. As famílias que contam já com experiência do matrimónio e da família, deverão procurar pôr ao serviço dos outros a própria experiência humana. Para concretizar esse objectivo deve impulsionar-se a formação de grupos de casais que facilitem o diálogo e a comunicação de experiências, que tenham os seus próprios esquemas de formação continuada, e que desempenhem a missão de acolher e de acompanhar os casais que se aproximam da paróquia por algum motivo familiar.

… e, fundamentalmente, dar testemunho de alegria e entusiasmo no meio das dificuldades, nunca esquecendo que…
… «O Amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7).

Bibliografia
A Família, esperança da Igreja e do mundo (abreviatura FEIM). Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (31 de Maio de 2004)
Constituição Dogmática Lumen Gentium (abreviatura LG), sobre a Igreja.
Evangelho segundo S. João.
Evangelho segundo S. Lucas.
Evangelho segundo S. Mateus.
Falcão, D. Manuel (2004). Enciclopédia Católica Popular. Lisboa: Paulinas.
Familiaris Consortio (abreviatura FC). Exortação Apostólica de João Paulo II  sobre a função da família no mundo de hoje (22 de Novembro de 1981).
Oliveira, A. Corrêa & Araújo, J. de Sousa (2004). A Família é o lugar… S. João do Estoril: Lucerna.
Vários Autores (2005). Família de Nazaré – Mistério e Exemplo. Lisboa: Paulinas (e Instituto Secular das Coperadoras da Família).
Wikipédia.

 

 

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